Arte: Carneiro
A
construção do Cristo Redentor no Corcovado é considerada um grande marco da
engenharia civil brasileira. Erguido em concreto armado, o monumento é
revestido de um mosaico de pedra-sabão originária da região de Carandaí, em
Minas Gerais, que foi colado manualmente pela senhora da sociedade carioca da
época.
A
construção foi sugerida pela primeira vez em 1859, pelo padre Lazarista, Pedro
Maria Boss, à princesa Izabel, mas a ideia só tomou corpo em 1921, quando se
reuniu, no Circuito Católico, a primeira assembléia destinada a discutir o
projeto local para a edificação do Cristo, a ser construído para comemorar o
centenário da independência do Brasil, no ano de 1922.
Entraram
na disputa o Corcovado, o Pão de Açúcar e o Morro de Santo Antônio. Optou-se
pelo Corcovado, pelo seu grande pedestal e pela ótima localização, sendo
possível a sua visualização de várias zonas da cidade. O projeto escolhido foi
o do engenheiro Heitor da Silva Costa.
A
mando do cardeal Dom Sebastião Leme é organizada, em setembro de 1923, a “Semana
do Monumento”, uma campanha nacional para arrecadação de fundos para as obras. A
sociedade em geral se mobilizou. Venderam-se rifas, fizeram-se festas,
escoteiros pediram dinheiro nas portas das casas e até as tribos dos Bororós,
do estado do Mato Grosso, contribuíram para tornar este sonho uma realidade.
Entre
os anos de 1921 e 1923, Heitor da Silva Costa trabalhou em seu projeto, ao
fazer os desenhos em parceria com o pintor e gravurista Carlos Oswald, além de
fazer também os estudos relativos ao material a ser utilizado e ao tamanho final
do monumento.
Entre
1924, o engenheiro vai à Europa para escolher um escultor para desenhar a
maquete final do seu projeto e contratar um engenheiro calculista. Dentre
diversos escultores, sua escolha recai sobre o francês Paul Landowski, devido a
seu estilo modernista, sem exageros, o que a obra não comportaria. Silva Costa
escolheu também o engenheiro francês Albert Caquot, grande mestre em cálculos
estruturais da época.
As
obras de edificação do Cristo Redentor foram iniciadas em 1926. Heitor Levy é o
engenheiro mestre de obras, e Pedro Fernandes Vianna da Silva, o engenheiro
fiscal.
De altura, o Cristo possui 30 metros e três centímetros. A base
mede 08 metros e abriga a capela de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, desta forma, o Cristo fica com 38m e três centímetros.
De
envergadura, possui 29,60m, sendo que o braço esquerdo é imperceptivelmente
menor 40 cm, para dar maior estabilidade à imagem. A cabeça do Cristo está inclinada
33 cm para frente e sua coroa seve como pára-raios.
No
dia 12 de outubro de 1931, um verdadeiro show de tecnologia estava preparado
para a cerimônia de inauguração.
A
iluminação do Cristo seria acionada a partir da Itália, de onde o cientista
Guglielmo Marconi, a convite do jornalista Assis Chateaubriand, emitiria um
sinal elétrico que seria retransmitido para uma antena no bairro de Jacarepaguá.
Por conta das condições climáticas, a iluminação foi acionada da própria cidade
do Rio de Janeiro, o que não afetou em nada a grandiosidade do evento.
Um barzinho e um mirante para a sociedade carioca
era o que existia no Corcovado antes do Cristo.
Pode se ver, nesta foto, o telhado arredondado do barzinho logo
abaixo do Cristo em construção.
A
estrutura do Cristo Redentor em concreto armado é erguida no topo do Corcovado,
no alto de seus 710 metros de altura, em
registro aéreo feito por volta de 1931. Sobre a estrutura, a estátua receberia
o revestimento que lhe dá forma, um mosaico de pedra sabão.
Este
é um dos primeiros registros do Corcovado, feito por volta de 1865. No primeiro
plano se vê o casario da praia de Botafogo, antes dos sucessivos aterros que
alargariam a orla. A importância do morro como marco geográfico da cidade já se
via antes da fotografia, em desenhos e aquarela feitos por artistas de
expedições, diz Sérgio Burgi, coordenador da área de fotografia do IMS.
O Corcovado visto da Estrada das Paineiras, emoldurado pela vegetação da
Floresta da Tijuca e com as praias oceânicas de Niterói ao fundo, em 1866. No
alto do morro se vê o Chapéu do Sol, que garantia sobra aos visitantes do
mirante.
Do
alto do mirante do Corcovado, o Rio como era em 1906, no mesmo ângulo que a
estátua do Cristo veio a mirar a cidade depois de 1931. Segundo Burgi,
coordenador da área de fotografia do Instituto Moreira Salles (IMS), a
fotografia de Augusto Malta mostra como o morro já era usado como mirante no início do século. Nos terrenos abaixo
vê-se área onde crescia o bairro de Botafogo.
Mesmo
antes do Cristo, o Corcovado já atraía turistas, como estes que foram
retratados pela revista Caras y Caretas em 1905. “Quando o Cristo é implantado,
é num local já estabelecido do ponto de vista de sua localização”, diz Burgi. A
partir do início do século XX, o local passa a receber mais visitantes.
Os corajosos ao fundo e as damas bem vestidas à frente.
O
bonde da Estrada de Ferro do Corcovado faz o percurso morro acima. Segundo Burgi,
a via foi inaugurada no fim do século 19, ou seja, é bastante anterior ao
Cristo. A fotografia de Augusto Malta não tem data, mas é atribuída à primeira década
do século XX, quando o fotógrafo foi contratado pelo prefeito Pereira Passos para
documentar as profundas mudanças urbanas que imprimiu à cidade, como a abertura
da atual Av. Rio Branco.
A
foto de Marc Ferrez mostra a Praia de Botafogo com o Corcovado ao fundo e a
nova Av. Beira-Mar, parte do projeto urbanístico do prefeito Pereira Passos,
por volta de 1903. O crescimento da cidade acompanhado ao longo do tempo com
fotos do Corcovado ressalta Sérgio Burgi. Sobretudo do bairro de Botafogo, “muito
fotografado em registro feitos do alto do Corcovado ao longo das décadas”.
Depois
da construção do monumento sobre o Corcovado e da sua inauguração em 1931, a
vista do Cristo passa a ser uma referência para a então capital brasileira, agregando valor
simbólico àquela paisagem, aqui vista na década de 1970. Parte do fascínio vem
pelo feito de erguer a estátua no alto do morro, diz Burgi. “Hoje as pessoas vêem
aquilo como um grande monumento da engenharia”, afirma o coordenador de
fotografia do IMS.
Na
vista mostrando o Cristo e a praia e os prédios de Botafogo, na década de 1970,
já se vê a cidade mais parecida com os dias de hoje, ilustrando as
transformações radicais pela quais a cidade passou. O bairro é tomado por
prédios, que, no primeiro plano à esquerda, circundam e escondem o Morro da
Viúva.
Hoje
um dos principais cartões postais do Rio, o Cristo foi eleito uma das novas
Sete Maravilhas do Mundo Moderno, em 2007, e completa 80 anos consagrados na
paisagem carioca. Do alto, as desigualdades que se acentuaram no Rio ao longo
dos séculos se diluem, e a paisagem é de mar, mata e montanhas. “A distância suaviza os contrastes”, diz
Sérgio Burgi
Fotos da BBC Brasil - Notícias msn.