Em Latim IN-, negativo, mais SIGNIFICANS, de SIGNIFICARE, “querer
dizer,
mostrar por sinais, ter significado”, de SIGNUM, “sinal” ou
SPOTLIGHT
A luz ilumina, se apaga, aumenta a intensidade, decai
lentamente até atingir o vazio negro incontido. Tem que fazer aparecer mais
aqui do que ali, ou ali mais do que aqui. Cria um desenho plástico elucidando nitidamente
toda ação corporal ou existencial do momento, faz parecer perene, porém com tempo
marcado para ser ou para deixar de existir. Como o som, passeia por entre as
narrativas! Luzes que formam imagens aparecem ocasionais. Um ballet perfeito
entre o que tem a ser mostrado e o que a escuridão tenha que abafar. O conjunto
da obra assim se estabelece. A obra é pronta.
Um dia quase perfeito, se não fosse a preocupação
inerente, contida sem fala, ou com falas as sós sem com quem compartilhar. Como
a luz que fez tudo acontecer e a tudo se faz ver, foi banalizada à insignificância?
Esta era a pré ocupação. Então esta luz existe por si só? Sim, na vida real, na
ficção se deverá trabalhá-la ao esgotamento para sua subsistência perfeita ou
quase, para assim se fazer ver do caos a plenitude a ser compartilhado com um
alguém ou com uma platéia. O poder da existência. A luz. Sem ela, escuro,
preto, vazio. Sem forma. Sem sombra.
À luz dos fatos, me deparei com o que se tem tamanha
importância pra mim, mas é insignificante aos meus. Baixa auto-estima? Nenhuma.
Percebi, troquei várias vezes de canal e ela estava lá em seu nível sustentável!
Há de se romantizar ou não a realidade, estará ali,
sempre clara, evidente e até dura. A tomada de consciência há se ser
verdadeira. Elucidada, clareia, mesmo que doa a princípio, mas faça valer a
verdade da clara realidade.
Há tanta luz cotidianamente que dela nos despercebemos,
insignificante muita das vezes. Aí hoje ela iluminou pela primeira vez o
tamanho de minha insignificância. A insignificância existe. E que não seja
perene como a luz que a trouxe à superfície!
Quantas e quantas vezes fiquei no vácuo das ações, no
desprezo, muitas e muitas vezes, contido à minha insignificância. Por ser
adulto? Eu estou aqui!!! Imagine, não tem nada a ver! Por ter que ser forte?
Por ter eu que dar o exemplo? Por ser eu que tenho que ir atrás? Por ter que
prover, podendo ou não? Caramba, eles são crianças!!! Por se culpar mais ação
quando não há mais nada pra se fazer? Por se culpar? Por se culpar? Por se
culpar? Por tentar ser eu um pai bacana? Um amigo? Um companheiro da vibe top?
Por ter que dizer a todo tempo, “estou aqui”? A luz que clareia, às vezes
clareia demais... Às vezes é melhor meia luz ou mesmo a sombra.
Uma luz brilha em tudo e em todos, desta vez veio com força
em forma de canhão mostrando no centro do meu palco a minha consciência
protagonista. Papel principal para ver minha realidade de frente, sentado na
primeira fila, no gargalo. Eu realmente não tinha parado pra lembrar que eles
estavam adultos também, não havia mais criança naquele meu cenário. O adulto já
não era mais só eu. Eu já não precisava mais fazer tanto esforço. Cabe-me um
pouco da sombra, pelo menos! O canhão mostrou minha altura etária e o tamanho
exato que ocupo no espaço. A inércia. Um espaço pra cada um.
Acordei, abri os olhos, pouca luz. O que a luz forte havia
mostrado ontem ainda estava ali no quarto. Pouca luz... O dia passa depressa...
Como diria a poetisa: “Oh, as ridículas coisas necessárias!” E a vida continua...
e continua... O facho de luz se esvai... se esvai... se esvai... Blackout.
Amanhã é outro dia...
A feitura deste texto foi um exorcismo ou the lights
turn on
José Carneiro Cabral