quinta-feira, 14 de novembro de 2019




Este texto retirei do “Epílogo” do livro: Prólogo, Ato, Epílogo memórias, da grande dama Fernanda Montenegro. Termino de lê-lo neste momento entusiasmado. Foi uma grande viagem, destas que atravessam oceanos em tempestades raivosas e praias quase tranquilas. Aquelas viagens em que você acha que não vai chegar ao final vivo. A imigração italiana e a portuguesa fundida em Brasil. A panorâmica político-social do país do século XX e início do XXI, entrecortada majestosamente com a grande história de uma grande mulher, uma força humana cadenciada pela vontade e o amor à arte e aos seus, talvez a maior atriz brasileira de todos os tempos com seus memoráveis trabalhos e lutas. Uma mulher, usando uma palavra que ela mesma gosta de dizer, IMORRÍVEL!  BRAVO! BRAVO!
Como na vida, portanto...
         

     "Por mais longa que seja a vida de um ator, ele não tem como declarar: “Estou pronto”. E se fizer, não é do ramo, Embora no teatro se repita, dia após dia, o mesmo gesto, a mesma intenção, o mesmo texto, dentro da mesma encenação, repentinamente uma “faísca inesperada de percepção” revela outra zona a seguir – que depende de sua inquietação, Em Reflexões de um comediante, de Jacques Copeau, lê-se sobre essa “anomalia”: “Nisto consiste o mistério – que um ser humano possa pensar e tratar a si próprio como matéria de sua arte. Ao mesmo tempo agir e ser o que é manobrado. Homem natural e marionete”.
   Pela vida afora, acumulei algumas observações. São intuições. Quando temos muitas certezas sobre o nosso modo de agir, em cena ou na vida, corremos o risco de ficarmos circunscritos a uma técnica que nos imobiliza naquele processo domado, dominado, que nos congela. É a ponte com o imprevisto, o improvável, o absurdo que, muitas vezes, nos leva a renascer. No palco, atingir o impensável é fundamental. Essa é a batalha. (...)"
Fernanda Montenegro

Nenhum comentário:

Postar um comentário