Este texto retirei do
“Epílogo” do livro: Prólogo, Ato, Epílogo memórias,
da grande dama Fernanda Montenegro. Termino de lê-lo neste momento
entusiasmado. Foi uma grande viagem, destas que atravessam oceanos em
tempestades raivosas e praias quase tranquilas. Aquelas viagens em que você
acha que não vai chegar ao final vivo. A imigração italiana e a portuguesa
fundida em Brasil. A panorâmica político-social do país do século XX e início
do XXI, entrecortada majestosamente com a grande história de uma grande mulher, uma
força humana cadenciada pela vontade e o amor à arte e aos seus, talvez a maior
atriz brasileira de todos os tempos com seus memoráveis trabalhos e lutas. Uma
mulher, usando uma palavra que ela mesma gosta de dizer, IMORRÍVEL! BRAVO! BRAVO!
Como na vida, portanto...
"Por
mais longa que seja a vida de um ator, ele não tem como declarar: “Estou pronto”.
E se fizer, não é do ramo, Embora no teatro se repita, dia após dia, o mesmo
gesto, a mesma intenção, o mesmo texto, dentro da mesma encenação, repentinamente
uma “faísca inesperada de percepção” revela outra zona a seguir – que depende
de sua inquietação, Em Reflexões de um
comediante, de Jacques Copeau, lê-se sobre essa “anomalia”: “Nisto consiste
o mistério – que um ser humano possa pensar
e tratar a si próprio como matéria de sua arte. Ao mesmo tempo agir e ser o
que é manobrado. Homem natural e marionete”.
Pela
vida afora, acumulei algumas observações. São intuições. Quando temos muitas
certezas sobre o nosso modo de agir, em cena ou na vida, corremos o risco de
ficarmos circunscritos a uma técnica que nos imobiliza naquele processo domado,
dominado, que nos congela. É a ponte com o imprevisto, o improvável, o absurdo
que, muitas vezes, nos leva a renascer. No palco, atingir o impensável é fundamental.
Essa é a batalha. (...)"
Fernanda Montenegro
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