Paulo Pederneiras |
Rodrigo Pederneiras |
Em 1985, chegava aos palcos o segundo grande marco na
carreira do grupo: Prelúdios, leitura cênica da interpretação do pianista
Nelson Freire para os 24 prelúdios de Chopin. O espetáculo, que faz sua estreia
no I Festival Internacional de Dança do Rio de Janeiro, aclamado pelo público e
pela crítica, e termina de firmar o nome do grupo no cenário de dança.
O Grupo Corpo dá início então a uma nova fase, na qual
irá processar a gestação de um caligrafia e um vocabulário coreográfico únicos.
A partir de um repertório eminentemente erudito – onde figuram, entre outras,
obras de Richard Strauss, Heitor Villa-Lobos e Edward Elgar - vai tomando forma
a combinação da técnica clássica com uma releitura contemporânea de movimentos
extraídos dos bailados populares brasileiros que se transformaria em uma marca
registrada do grupo.
Em 1989, estreia Missa do
Orfanato, uma densa e grandiosa tradução cênica da Missa Solimnis K 139, de
Mozart. De dimensões quase operísticas, o balé torna-se um marco estético tão
definitivo na trajetória do grupo, que, duas décadas depois de sua estreia
permanece em repertório.
Em 1992 emerge o divisor de
águas do Grupo Corpo: 21, o balé que firmaria a imparidade da sintaxe
coreográfica de rodrigo Pederneiras e a inconfundível persona cênica da
companhia. A partir da sonoridade singular da oficina instrumental mineira
Uakiti e dez temas compostos por Marco
Antônio Guimarães, o coreógrafo deixa de lado a preocupação com a forma e
começa a investir na dinâmica do movimento, buscando, através do desmembramento
de frases musicais e rítmicas, a escritura de um partitura de movimentos menos
pautada na construção melódica, e mais interessada no que subjaz a ela, O
resgate da ideia de trabalhar com trilhas especialmente compostas, que havia
marcado os três primeiros espetáculos do grupo nos idos dos anos 70, permite
também que ele avance na investigação de um vocabulário identificado com suas
raízes brasileiras.
Na Criação seguinte, Nazareth (1993) o fascínio de
Rodrigo por transitar entre os universos musicais erudito e o popular encontra
um oportunidade perfeita para se realizar mais plenamente. Inspirada no jogo de
espelhamento proposto em contos e romances do ícone maior da literatura,
Machado de Assis (1939-1908), e na obra de Ernesto Nazareth (1863-1934), figura
seminal na formação da música popular no Brasil, a trilha criada pelo
compositor e professor de Teoria Literária José Miguel Wisnik, permite que, a
partir de uma sólida base clássica, o Corpo leve para a cena uma bem humorada
síntese de brejeirice e da sensualidade (in) contidas no gingado próprio das
danças brasileiras de salão.
A parceria com autores contemporâneos dá tão certo que as
trilhas especialmente compostas passam a ser uma norma e, cada trilha, o ponto
de partida para a nova criação. De 1992 pra cá, a exceção que confirma a regra
é Lecuona, de 2004, onde, a partir de treze derramadas canções de amor do
cubano Ernesto Lecuona (1895-1963), Rodrigo exercita à exaustão seu dom para a
criação de pas-de-duex.
Em meados dos anos 90, o grupo corpo intensifica
significativamente sua agenda internacional. Entre 1996 a 1999, atua como
companhia residente da Maison de La Danse, de Lyon, França, fazendo neste
período a estreia europeia de suas novas criações Bach, Parabelo e Benguelê.
Hoje, com 35 coreografias e mais de 2.200 récitas na
bagagem, a companhia mineira de dança contemporânea, mantém dez balés em
repertório e faz uma média de 70 récitas anuais, apresentando-se em lugares tão
distintos quanto a Islândia e a Coreia do Sul, Estado Unidos e Líbano, Itália e
Cingapura, Holanda e Israel, França e Japão, Canadá e México.
O minimalismo de Philip Glass (Sete ou oito peças uma um
ballet, 1994), o vigor pop e urbano de Arnaldo Antunes (O Corpo, 200), o
experimentalismo primigênio de Tom Zé (Santagustin, de 2002) e, em parceria com
Winik (Parabelo, de 1997), a africanidade de João de Caetano Veloso e José
Migual Winisk (Oncotô, 2005), a modernidade enraizada de Lenine (Breu, 2007) a
diversidade sonora de Moreno, Domenico e Kassin (Ímã, 2009), as canções medievais
de Martin Codaz na releitura de Carlos Nuñes e José Miguel Winisk (Sem Mim,
2011), dão origem a espetáculos de têmperas essencialmente diversas – cerebral,
cosmopolita, interiorano, primordial, existencialista, brutal, moderno, lírico
– sem que se percam de vista os traços distintos do Grupo Corpo.
CRONOLOGIA
Missa do Orfanato
21
Nazareth
Sete ou oito peças para um ballet
Bach
Parabelo
Benguelê
O Corpo
Santagustin
Lecuona
Onqotô
Breu
Imã
Sem Mim
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